Comer Sangue: O Que a Bíblia Ensina?

739

bebendo sangueDeus proibiu definitivamente comer sangue em todas as épocas. Nos dias logo após o dilúvio, o Senhor disse: “Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis” (Gênesis 9:2-4). Na lei de Moisés, Deus simplesmente ordenou: “Qualquer homem da casa de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós que comer algum sangue, contra ele me voltarei e o eliminarei do seu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida” (Levítico 17:10-12). No Novo Testamento, a palavra de Deus continua a proibir o consumo de sangue: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas cousas essenciais: que vos abstenhais das cousas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas cousas fareis bem se vos guardardes. Saúde” (Atos 15:28-29). Veja também Atos 15:20; 21:25.

Essas proibições se aplicam a nós hoje? Alguns dizem que não, e argumentam que esses mandamentos do Novo Testamento tinham um propósito especial: evitar ofender os preconceitos dos judeus e permitir a partilha de refeições entre judeus e gentios. Eles dizem que as admoestações de Atos 15 foram meros conselhos para promover boas relações, mas não tinham a intenção de serem mandamentos inalteráveis de Deus. Assim, eles ensinam, não precisamos mais seguir essas proibições. Há três problemas com tal abordagem.

Linguagem usada

Esses não eram meramente conselhos de alguns homens. Atos 15:28 diz especificamente que o Espírito Santo autorizou esse ensinamento. Desde que o que os apóstolos disseram através do Espírito Santo foi inspirado por Deus (João 16:13; 1 Coríntios 14:37; 1 Tessalonicenses 2:13), não temos direito a pô-lo de lado.

Ainda mais, esses mandamentos são chamados “cousas essenciais” (Atos 15:28). O que é essencial não é opcional e não pode ser anulado por nossa vontade.

Finalmente, essas decisões deviam ser observadas pelos irmãos (Atos 16:4). A palavra “decisões” se refere a decretos e ordenanças. As outras passagens onde ela é usada na Bíblia são Lucas 2:1; Atos 17:7; Efésios 2:15; Colossenses 2:14 onde ela é traduzida como “decretos” e “ordenanças”. Elas se referem a mandamentos obrigatórios, quer de César, nas primeiras duas passagens (Lucas 2:1; Atos 17:7), quer de Deus nas duas últimas (Efésios 2:15; Colossenses 2:14). A palavra “observar” é uma palavra freqüentemente usada na Bíblia em relação à obediência da lei: veja Atos 7:53 e 21:24 como exemplos. A linguagem usada nessas decisões certamente não deixa a impressão de que eram opcionais ou temporárias.

Contexto

O contexto de Atos 15 envolve a situação de alguns judeus cristãos tentarem forçar os gentios a guardarem a lei de Moisés (veja versículos 1 e 5). A idéia nesse capítulo era para mostrar que essa posição era errada. Os gentios não precisavam guardar a lei de Moisés. Pedro referiu-se a guarda da lei de Moisés como “um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós” (Atos 15:10). Paulo não permitiu que Tito fosse circuncidado, porque ele não queria dar a entender que concordava de algum modo com esses mestres judaizantes (veja Gálatas 2:1-5, que provavelmente se refere ao mesmo encontro). Nesse contexto, seria quase impossível imaginar que os apóstolos mudassem de idéia e pedissem aos gentios que fizessem exatamente o que os falsos mestres queriam, isto é, que guardassem a lei de Moisés. Tal grupo estava absolutamente determinado a não perturbar os gentios, mas somente informá-los sobre os mandamentos essenciais. (Atos 15:19). É difícil imaginá-los emitindo decretos a uma grande área meramente para acomodar o preconceito judeu. Isto seria fazer exatamente o que os falsos mestres queriam. Queira ler Atos 15 e examinar o texto cuidadosamente.

O contexto mais amplo mostra que esses mandamentos eram ensinados em vários lugares (Atos 16:4) e ainda estavam em vigor alguns anos depois (Atos 21:25). Eles não estavam lidando só com um assunto temporário local. Esses mandamentos também fazem parte dos ensinamentos apostólicos revelados pela boca de Deus.

É significativo, contudo, que a proibição contra comer sangue não se tenha originado na lei de Moisés, mas tenha feito parte da ordem de Deus para a humanidade desde o dia em que ele autorizou os homens a comer carne de animais (Gênesis 9).

Os outros itens

Não foi somente comer sangue e coisas estranguladas o que foi proibido nessas decisões. Foram também a fornicação e as “contaminações dos ídolos” (Atos 15:20). Se a proibição quanto a comer sangue não pretendesse ser universal, então a proibição contra a fornicação e a idolatria também não teriam a intenção de serem universais. Não se pode entendê-la de duas maneiras: se um desses itens está certo hoje, todos eles estão. Se um deles está errado hoje, todos também estão. Linguagem idêntica é usada para descrever todos eles.

Sabemos que a fornicação e a idolatria são sempre erradas. Não há situação, ou lugar, ou tempo no qual o Novo Testamento permita qualquer delas. Assim, não há situação, ou lugar, ou tempo no qual o Novo Testamento permita comer sangue.

Uma objeção freqüentemente levantada é que as “contaminações dos ídolos” eram às vezes aceitáveis na Bíblia. Isto é incorreto. A expressão usada em Atos 15:20 não é usada em nenhuma outra ocasião no Novo Testamento. A expressão usada em Atos 15:29; 21:25 é usada também em 1 Coríntios 8:1, 4, 7, 10; 10:19; Apocalipse 2:14, 20. Todas essas passagens condenam quanto a comer “cousas sacrificadas aos ídolos.”

1 Coríntios 8-10 condena comer “cousas sacrificadas aos ídolos” por duas razões: isso viola o amor ao nosso próximo, porque encoraja os irmãos a pecarem (1 Coríntios 8) e viola o amor a Deus, porque é idolatria (1 Coríntios 10:14-22). Paulo diz claramente que não se pode participar na ceia do Senhor sendo participante da mesa dos ídolos (1 Coríntios 10:19-22; veja também Mateus 6:24). Alguns acreditam que 1 Coríntios 10:23-33 permite comer “cousas sacrificadas aos ídolos” porque permite aos cristãos comprar carne no açougue sem perguntar compulsivamente qual a origem da carne. Mas quando a carne é comprada no açougue ela já não se enquadra na categoria de “cousas sacrificadas aos ídolos”, e por essa razão pode ser comida pelo cristão. Chamar alguma coisa de “alimento sacrificado aos ídolos” implica que seja alimento sendo comido em ligação com a festa do ídolo.

Observe cuidadosamente as passagens no Apocalipse:“Tenho todavia, contra ti algumas cousas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição…. Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem cousas sacrificadas aos ídolos (Apocalipse 2:14, 20). Essas passagens mostram que Deus considera o comer alimento sacrificado aos ídolos como idolatria (observe Apocalipse 2:15-16, 21-23).

Quando se entende que fornicação e idolatria são sempre erradas, torna-se fácil ver que comer sangue é errado também.

– por Gary Fisher

Estudos da Bíblia / Portal Padom

Deixe sua opinião