Em vídeo, Universal orienta a fazer acordo com “bandido”

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A gravação de uma videoconferência realizada entre os principais líderes da Igreja Universal em novembro de 2008 indica que a direção da igreja orientou seus pastores em todo o Brasil a se aproximarem de “bandidos” e presos para evitar que a instituição seja vítima de assaltosOs pastores deveriam procurar criminosos para explicar o trabalho social da igreja, o que resultaria num acordo tácito para proteção.

A reunião foi conduzida pelo bispo Romualdo Panceiro, apontado pelo bispo Edir Macedo como seu sucessor. Ele falou para pastores regionais de todos os Estados. O assunto do encontro -realizado sem a presença de fiéis- foi um assalto a mão armada ocorrido no bairro Cidade Ademar, divisa entre São Paulo e Diadema. Em 9 de novembro de 2008, 15 homens armados abordaram um carro da igreja e levaram R$ 52 mil, como registrado no 43º Distrito Policial -o caso continua sem solução.

A videoconferência ocorreu no dia seguinte ao assalto. Na gravação, o bispo Romualdo orienta os pastores a procurarem os líderes comunitários e “bandidos”. Ele diz que a ordem partiu “do bispo”, sem citar nomes -Romualdo é considerado o número dois da igreja. “E o bispo quer que isso seja feito em todo o Brasil. Como fizemos aqui. Mas não é só em uma comunidade, como foi o caso lá. Não é só para você fazer na comunidade da frente, fazer na comunidade de trás. “Pô, a minha região é o quê? É uma favela”. Então você tem que fazer em todas as favelas”, disse.

O bispo orientou os responsáveis por Cidade Ademar a buscar uma explicação para os autores do recente crime. Ele queria que o pastor da igreja no bairro fosse até os líderes criminosos, nos presídios, para cobrar reciprocidade.

“Você tem que ir lá na prisão próximo da… Tem prisão, lá? Tem penitenciária? […] Você vai lá e começa a conversar: “Pô, a gente tá fazendo um trabalho tão bacana, com familiares de vocês”. Aí você fala legal: “Pô, levaram a igreja. Todo mundo armado. E deixaram o carro na favela… Alba”. Pode ser que não seja de lá. “Mas, poxa, como é que a gente vai continuar fazendo o trabalho na comunidade, distribuindo comida para a família de vocês? Pô, a gente é companheiro ou não é?” Fala assim: “A gente é companheiro ou não é?'”, orientou o bispo.

Em outro trecho, Romualdo diz acreditar que o assalto em Cidade Ademar foi obra de policiais. “Nosso problema não é bandido, o nosso problema é polícia”, afirma.

Como a Folha revelou ontem, as gravações de duas videoconferências -na outra, Romualdo ensina os pastores da Universal a arrecadar dinheiro de fiéis durante a crise econômica de 2008- foram entregues ao Ministério Público paulista pelo ourives Eduardo Cândido da Silva, em litígio judicial com a igreja.

Igreja nega ter sugerido trato com criminosos

Em nota enviada à Folha de São Paulo por meio de sua assessoria de imprensa, a Igreja Universal disse que “não orienta e jamais orientou seus pastores a negociarem com bandidos”.

“Há, sim, diálogos permanentes de pastores e bispos com chefes de comunidades, como é feito por qualquer líder religioso presente em uma comunidade carente (seja ele evangélico, católico, espírita). Sempre com as portas abertas para todos”, informou a igreja.

“Como instituição religiosa renomada, a Iurd trabalha pela redução da violência e da desigualdade social. Além das ações sociais nas comunidades, são feitas orações para redução da criminalidade, em cultos com a presença de ex-infratores, parentes de detentos e demais moradores da comunidade”, informou a igreja.

“Essa é uma das principais missões da Iurd: acolher e lutar pela recuperação de marginalizados.”

A igreja protestou contra o que considera uma “interpretação equivocada de um trecho isolado do seu contexto geral”.

“A gravação feita, se interpretada em sua totalidade, mostra a orientação dada aos bispos e pastores sobre os cuidados que devem ser tomados nas igrejas diante do alto índice de criminalidade que tem aumentado dia a dia nas grandes cidades, tomando como exemplo um roubo ocorrido em um dos templos da Iurd na cidade de Diadema.”

Fonte: Folha de São Paulo / Padom

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