Filhos crentes, pais espíritas – Como viver bem?

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Dizem os estudiosos que a adolescência e a juventude são períodos que tornam difícil o relacionamento entre pais e filhos. Por ser um momento onde a personalidade do indivíduo está se formando, há quase sempre um conflito de idéias entre as duas gerações. E quando a convivência é entre filhos evangélicos e pais espíritas? 

A universitária Cristiane Ramos, 26 anos, vive uma situação destas. Ela, evangélica, congrega na Igreja Água Viva, a mãe, Marilda Aparecida é umbandista. A jovem conta que é obrigada a conviver com velas acesas, imagens de entidades por todos os lados, rituais de purificação como defumação (usando uma espécie de incenso), copo com água, e um chifre de boi atrás da porta.

O maior conflito é quando Cristiane escuta louvores que gosta. “Quando começo a adorar e choro na presença de Deus, ela diz que não preciso chorar porque não tenho motivo e também reclama quando leio a Bíblia”, revelou. Perguntada sobre o assunto, Marilda Aparecida diz que respeita a religião da filha e exige que ela também respeite a sua. “Gosto da Cristiane estar na igreja. Se ela quiser fazer um culto aqui, pode fazer. Só não pode mexer nos meus santinhos”, condicionou. Estrategicamente, Cristiane só evangeliza sua mãe nos momentos em que ela está triste ou passando por algum problema.

Tayara Moreira, de 16 anos, ainda não teve oportunidade de evangelizar o seu pai, que trabalha como ogan (tocador de atabaque) num centro de candomblé, cuja mãe de santo é sua avó paterna. “Eu me converti há quase um ano e não falo muito de Jesus para meu pai, porque ele não me deixa falar. Ele me diz que me respeita, mas não quer ouvir”. A jovem, que congrega na Igreja Sara Nossa Terra, contou que por isso, sempre participa de reuniões de oração na igreja, a fim de interceder pelo pai.

CASO ATÍPICO

 Para Elen Rubia da Cruz, de 16 anos, filha da kardecista Rosane Dobal, a convivência não é difícil, já que sua mãe a estimula a 1freqüentar a igreja evangélica. Ela, que é membro da igreja batista, afirmou que não discute com sua mãe, mas respeita a sua opção. Rosane, que freqüenta o Centro Espírita Antônio de Pádua, diz que nunca forçou seus filhos a nada e que não se incomoda com o fato da filha estar na igreja. “Religião deve ser opcional, não sou preconceituosa. Quando a Elen era mais nova e começou a ir para a igreja, ela me chamava de macumbeira, mas agora ela me respeita”, disse.
LAÇOS QUASE ROMPIDOS
O caso de Bernardo Rabello, 23 anos, é sério e deve servir como alerta para os jovens. Ele conta que quando se converteu, aos 15 anos, brigava com a mãe, Elizabeth, que é kardecista, tentando convencê-la de seguir o Evangelho. “Aos poucos fiquei órfão. Perdi o lugar de segurança que minha mãe proporcionava e dei lugar a uma rivalidade estúpida. Com o tempo, aprendi que a minha mãe é uma mulher muito especial e única. Passei a sentir por ela amor e carinho especiais. Passamos a conversar mais e fui conquistando-a como filho e amigo”, confessou o jovem, que atualmente, procura uma igreja para congregar.
TESTEMUNHO E OBEDIÊNCIA

O pastor Kaju, da Igreja Nova Assembléia de Deus, trabalha com jovens e disse que a melhor forma se conviver com os pais é 2com obediência e o bom testemunho de cristão, com a mudança de comportamento após a conversão. “Não pode ficar forçando a conversão dos pais e nunca se deve afrontá-los, pois são autoridade”, ensinou. Ele lembrou ainda da promessa de Atos 16:31, que diz ”Crê e será salvo tu e tua casa”, afirmando que o jovem deve buscar em Deus o cumprimento desta verdade. 

Para Renata Tomaz, uma das coordenadoras de adolescentes de uma igreja batista, “a Bíblia tem um princípio muito claro sobre honrar pai e mãe, independente de quem eles sejam ou de que fé professam. Portanto, ensinamos que é fundamental obedecer aos pais como forma de evidenciar sua conversão. Adolescentes filhos de pais não crentes só são batizados quando seus responsáveis autorizam e aprovam. Ensinamos a eles que a bênção da família é muito importante”.
O jovem também não deve se afastar dos seus pais, segundo Kaju. “Nestes casos, o jovem é a luz e onde a presença de Deus se manifesta, o diabo não tem como agir. Ele deve orar pelos seus pais, repreender a atuação do engano, interceder com amor”, orientou. Nos casos em que os pais proíbem os filhos de ir à igreja ou obrigam-no a visitar o centro espírita, o conselho de Kaju é: “o jovem deve ir por obediência, porque se ele estiver em comunhão com Deus, nenhum mal se manifestará. Dou três dicas aos jovens: obedeçam a seus pais, sejam fiéis a Deus e resistam ao diabo”.

 Entretanto, Renata tem outra opinião. “Eu aconselharia o jovem a ter a seguinte conversa com seu pai: ‘Pai, imagine se o senhor 3fosse obrigado por seu chefe ou por seus pais a freqüentar um culto evangélico, sendo o senhor um espírita. Como se sentiria?’ Dialogar não significa rebelar-se. Talvez essa seja uma oportunidade de iniciar uma conversa sobre as bases de sua fé, sobre vida eterna, enfim”. Por outro lado, se os pais do adolescente são espíritas praticantes, ele não vai ver no centro espírita coisas tão diferentes do que vê em casa. Logo, para Renata, a questão mais importante é como esse menino ou menina reage a uma doutrina completamente contrária ao Cristianismo.

APOIO DA LIDERANÇA
Na opinião do pastor, o jovem que vive nessas condições deve buscar apoio em sua liderança para orar por sua família. “Deve colocar pedidos de oração e pedir à igreja que esteja intercedendo pela salvação dos pais”, pontuou. Na opinião de Renata, a liderança não deve interferir na ordenança dos pais nem questionar sua autoridade. “Buscamos conhecer os pais de todos os adolescentes que freqüentam ou se convertem em nossa igreja. A aproximação ajuda muito na hora de mediar um conflito”, explicou. A líder disse ainda que é fundamental que a igreja apóie esse jovem, dando a ele cobertura de oração, apoio, incentivo, segurança e fé para manter-se firme quanto ao que ensina a Palavra de Deus.

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