Lixeiros egípcios sofrem dificuldades com abatimento de porcos

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lixeiros-egitoOs coletores de lixo de Cairo vivem em vizinhanças cheias de lixo. As crianças brincam com o lixo e no lixo, quanto não estão ajudando a separá-lo e coletá-lo. As mulheres sentam bem em cima do lixo, escolhendo comidas estragadas com suas mãos e atirando-as aos porcos, que vivem com eles na região.
É um mundo de odores chocantes e visões marcantes. Mas é o mundo deles, o mundo de zabaleen, centenas de pessoas que fizeram sua vida e uma comunidade coletando o lixo do Cairo e transformando-o em mercadoria.
Essa é a grande identidade deles, e a qual eles têm medo que o governo lhes tire.
“Não é um trabalho, é a vida”, disse Isat Naim Gindy, neto de um dos originais zabaleen do Cairo, que agora mantém uma organização sem fins lucrativos para ajudar a educar os filhos dos coletores de lixo.
O começo do que eles temem foi a reação do governo às notícias de que uma “gripe suína”, (rebatizada de gripe A H1N1 pela OMS), estava se espalhando pelo mundo. O Egito decidiu abater todos os seus porcos, cerca de 300 mil, embora não tenham ocorrido casos de “gripe suína” no Egito.
As agências internacionais rapidamente criticaram as autoridades, dizendo que os porcos não estavam espalhando a doença.
Mas o Egito não parar o grande abate de porcos. O governo prometeu que seria um processo humano, sacrificando os porcos de acordo com a lei islâmica e, então, congelando a carne. Mas jornalistas de um jornal egípcio, Al Masry Al Youm, seguiram caminhões que carregavam os porcos para o depósito de lixo. Enquanto filmavam, trabalhadores usavam um carregador para jogar as pilhas de animais vivos em enormes caminhões de lixo. Eles documentaram leitões sendo apunhalados e atirados em pilhas, grandes porcos sendo espancados com uma vara de metal, e suas carcaças sendo depositadas na areia.
A selvageria do abatimento despertou um clamor no Egito e ao redor do mundo.
Mas as mortes nunca pararam.
O governo disse que não estava mais agindo para prevenir a “gripe suína”, mas que esta era uma parte de um plano para limpar os zabaleen, para que finalmente vivam em boas condições sanitárias. O Egito já tentou isso antes. Há muitos anos, o governo tentou tirar os zabaleen dos negócios, após contratar companhias privadas para coletar o lixo. Mas os resíduos do Cairo superaram a capacidade das companhias, e pouco mudou para os zabaleen.
“Queremos que eles tenham uma vida melhor, tratada humanamente. É uma vida muito difícil”, disse Sabir Abdel Aziz Galal, chefe do departamento de doenças infecciosas no Ministério da Agricultura.
Então o governo surgiu com uma nova estratégia: matar os porcos.
Os zabaleen são cristãos. A maioria egípcia é muçulmana. Os zabaleen têm convicção de que o governo quer usar a gripe para assustar e não para ajudar a melhorar suas vidas, mas para banir os porcos do Egito. O Islã proíbe o consumo de carne de porco.
“No fim, o problema é que os porcos não são aceitos no Egito”, disse o reverendo Samaan Ibrahim, padre de uma das maiores vizinhanças de zabaleen, no Cairo.
Mas o que eles deviam fazer com todo o lixo orgânico apodrecendo que costumava a alimentar os porcos? Eles têm cabra, mas não o suficiente.
“Eles esperam que eu pague para que um carroceiro leve isso embora”, disse Faris Samir, 22, cuja família toda tem 33 homens, mulheres e crianças, perdeu sua renda quando a polícia veio e forçou-os a entregar seus 125 porcos. “Esqueça, eu jogarei o lixo em qualquer lugar”.
Como costuma ser o caso no Egito, essa crise começou com a decisão que veio inesperadamente, sem consulta e sem consideração pelo quão drástico seriam as consequências para as cerca de 400 mil pessoas de famílias zabaleen.

New York Times/www.padom.com

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