Música gospel é destaque no Jornal O Globo

285

A edição da última sexta-feira, 14, do jornal O Globo, trouxe uma matéria especial de como a música gospel tem se renovado nos últimos anos.

A publicação entrevistou o diretor artístico do departamento gospel da Sony Music, Maurício Soares, e alguns artistas do cenário gospel com o DJ PV, Pregador Luo e Salomão do Reggae, que falaram ao jornal sobre como eles renovaram a música gospel, através de diferentes ritmos que abrange cada vez mais a popularidade do gênero gospel no país. Sendo esse um dos motivos que tem feito com que a música gospel tenha um reconhecimento cada vez maior na mídia secular.

Abaixo matéria da coluna Segundo Caderno do jornal O Globo, que destaca a música gospel

noticias-gospel-musica-gospel-o-globo

O gospel se abre ao rap, reggae e eletrônica em busca de renovação

RIO – A fé do Pregador Luo é grande, mas não remove paredes. Encostado em uma delas, na sala de conferências da Universal, em um condomínio na Barra da Tijuca, o rapper paulistano acompanha o lançamento do braço digital do selo gospel da gravadora, o Universal Music Christian Group. Nos dois pequenos palcos improvisados no local, lotado por convidados e funcionários da empresa, as dez apostas da major — que, como outras, enxerga nesse cada vez mais lucrativo filão uma salvação do seu negócio — vão se revezando, em curtas apresentações, nas quais invariavelmente agradecem a Deus por estarem ali. Em meio ao desfile de sonoridades e palavras previsíveis, uma exceção é a dupla mineira Entre Salmos, com duas cantoras de estilo soul e agitadas coreografias de hip-hop.

— Gosto da levada moderna delas — aprova o rapper, que lança em setembro “Governe!”, seu primeiro álbum pela Universal, um CD físico, não só digital. — É uma evolução do som de artistas como Marvin Gaye, hoje representado por gente como D’Angelo.

Articulado e esclarecido, o Pregador Luo não chega a ser um novato — aos 39 anos, faz parte do grupo Apocalipse 16 e é dono de seu próprio selo, o 7 Taças, por onde já lançou, com muito sacrifício, cinco discos independentes, entre eles “Música de guerra”, de 2008, com temas criados especialmente para lutadores de MMA, em cujo meio é celebrado. Mas sua chegada, renovado, a uma das maiores gravadoras do planeta coincide com uma mudança de hábito desse universo. Marcado pela sóbria figura de padres cantores, o “rebanho” da música gospel — que movimenta anualmente em torno de R$ 1,5 bilhão no Brasil e desde 2010 tem sempre pelo menos dois artistas na lista dos mais vendidos do país — abre-se não apenas para o rap do Pregador e o r&b do Entre Salmos, mas também para a eletrônica do DJ PV e o ritmo ondulante do cantor Salomão do Reggae, entre outros exemplos.

— O gospel se firmou como uma força no mercado fonográfico. E tem buscado a renovação para atingir um número cada vez maior de pessoas — afirma Maurício Soares, diretor artístico do selo gospel da Sony Music. — Os artistas mais novos aprenderam que têm que buscar outras formas de se comunicar com o público, além daquele discurso tradicional.

Exemplo dessa adaptação aos novos tempos é o DJ PV (de Pedro Vitor, seu nome de batismo), que acaba de lançar o CD/DVD “Som da liberdade 2.0”, seu primeiro pelo Sony Music Gospel, gravado ao vivo em um ginásio em Goiânia, onde nasceu. Ex-dançarino de um grupo de hip-hop, ele começou a discotecar em 2007 e hoje, atuando também como produtor, é uma das estrelas do chamado gospel eletrônico. Seus vídeos têm milhões de acessos no YouTube, e suas apresentações incluem um robô de LED e uma guitarra Nintendo Wii (a mesma usada no popular jogo “Guitar hero”).

— Uso essas ferramentas para tornar as minhas apresentações mais dinâmicas — explica ele, fã de Swedish House Mafia e David Guetta, falando por telefone de Portugal, no meio de uma turnê pela Europa. —Tenho mostrado que é possível levar a palavra de Deus de forma atual e divertida. Acredito que isso tem ajudado a quebrar preconceitos em relação ao gospel.

A repercussão nas redes sociais do trabalho de artistas como o DJ PV tem sido usada como medida para o mercado fonográfico avaliar o alcance de suas novas “ovelhas”, como explica Fernando Lobo, gerente de A&R da Som Livre, que também tem um departamento exclusivamente dedicado a esse segmento e possuiu em seu cast artistas como o cantor André Valadão, com cinco milhões de seguidores no Facebook.

— A exposição nas redes sociais é, sem dúvida, um referencial importante para avaliarmos a evolução desse universo, que tem muitas particularidades. E com o crescimento do público evangélico, uma nova leva de artistas parece estar em busca de formas mais variadas de fazer contato e passar sua mensagem. Mesmo assim, com o amadurecimento desse mercado, há um funil pelo qual só os mais talentosos e profissionais vão passar.

Ex-vendedor de artesanato nas ruas e praias de Cabo Frio, onde mora, o cantor e compositor Salomão Rocha encontrou no ritmo jamaicano de onde tirou o nome artístico o veículo ideal para passar por esse funil e conquistar seu próprio público. Admitindo não ter um disco sequer de Bob Marley em casa, ele garante que o reggae “brotou” espontaneamente no seu coração e serviu de inspiração para que criasse as músicas que estão no seu CD/DVD de estreia, “Igual a você”, que lança até o fim do mês pelo Sony Music Gospel. A mesma busca por um lugar ao sol — ou nos céus — move as irmãs Fabiane Souza e Cássia Rodrigues, do Entre Salmos, cujo álbum “Daqui pra frente”, inspirado por Beyoncé e pela dupla americana Mary Mary, vai ser distribuído, em formato digital, pela Universal.

— Acho que está todo mundo cansado de ouvir as mesmas histórias, os mesmos discursos, sem um sabor novo — resume o Pregador Luo, fã do militante grupo americano Public Enemy. — Precisamos questionar até mesmo o conservadorismo do meio gospel para avançarmos juntos, independentemente da religião, na busca por um mundo mais justo. Deus para mim é isso.

Veja também: 

Portal Padom

Deixe sua opinião