O perigoso terreno das dívidas

264

– Quanto você ganha e quanto você gasta?
Nesta época incerta e perigosa, na qual até mesmo os especialistas discordam quanto aos prognósticos financeiros do mundo globalizado, é essencial que os cristãos reavaliem suas atividades e atitudes nessa área.Deus deixou princípios claros que devemos compreender e utilizar em benefício do Reino, de nossas famílias e da sociedade como um todo.
Jesus abordou essa questão financeira, de forma geral, em Lucas 16.11: “Assim, se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas?”. Em outras palavras, falta de sabedoria e disciplina para gerenciar o dinheiro indica ausência de maturidade espiritual. No entanto, o contrário também é verdadeiro. Através do discernimento e da aplicação dos princípios transmitidos por Deus podemos manejar nossas finanças em um mundo confuso e instável.
Jesus citou duas formas de economia em Marcos 12.17: “Então Jesus lhes disse: Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Muitos cristãos tentam lidar com seu dinheiro somente pelos padrões da economia mundial, idealizada por especialistas da área. Podemos, sim, usar nossa inteligência para nos preparar para enfrentar as situações que surgirem, mas a melhor estratégia, contudo, está em alinhar essa conduta ao plano econômico de Deus. O primeiro conceito divino que devemos assimilar é:

Envolvimento e posse

1 Timóteo 6.10 diz: “Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. É preciso frisar que o dinheiro em si não é o problema, mas sim o amor ao dinheiro. Esse é o grande algoz dos que se deixam seduzir e dominar por ele.
O Salmo 24.1 diz: “Do Senhor é a terra e tudo o que nela contém: o mundo e os que nele habitam”. Devemos sempre reconhecer que Deus tem direitos absolutos sobre nós e nossos recursos financeiros. Nossa atitude bem como a decisão de como ganhá-lo, gastá-lo, doá-lo ou investi-lo devem ser fundamentadas nesse conceito.
Muitas famílias enfrentam sérias dificuldades tentando manter o mesmo padrão elevado do vizinho. Não é incomum um cristão sentir inveja de alguém que tenha prosperado financeiramente mais do que ele. Alguns chegam a falir nessa disputa. Outros vivem infelizes e frustrados, porque por mais que se esforcem, não alcançam a mesma prosperidade.
Há, também, outro lado a ser ventilado: educação, planos de saúde e previdência privada são os três sonhos do brasileiro de classe média, segundo matéria de capa da revista Veja de 20 de fevereiro de 2002. Sabemos que a grande maioria de nós não terá dinheiro suficiente para adquirir tudo o que julga necessitar. Até estes três tópicos ficam, muitas vezes, no patamar do ideal, mas não do real. São faculdades com matrículas trancadas (às vezes definitivamente); convênios trocados por outros menos dispendiosos e, planos privados de aposentadoria que continuam sendo “sonhos de consumo”. Quanto à ofertas e doações, muitas vezes acabamos nem mesmo conseguindo fazê-las para as causas e ministérios que gostaríamos.
Muitas áreas da vida precisam de dinheiro para funcionar. Prioridades devem ser estabelecidas com base em nossa realidade financeira, mas acima de tudo, devemos entregar a Deus o patrimônio que julgávamos ser nosso, tratando dele da forma adequada – como mordomos – pois Deus o coloca e tira de nossas mãos, segundo sua vontade soberana.

Direção e disciplina

O Senhor Jesus disse em Lucas 9.23: “… Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me”. Esta declaração define a disciplina cristã necessária quando se trata de dinheiro.
O mundo nos assedia sem cessar. Orgulho, avareza, cobiça sempre se insinuam ao nosso coração e uma dessas formas de tentação é a de gastar para satisfação imediata. Outra, sutil e mortal, que até arruína casamentos, é a dívida. No entanto, vivemos em uma sociedade que já se acostumou e, praticamente, é dominada por ela.
A fértil imaginação publicitária inventou a enganosa facilidade: “Compre agora, pague depois”. No entanto, veja o que a Bíblia fala sobre isso em Romanos 13.8: “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros…”.
E agora? Será que a pessoa que deseja utilizar os padrões bíblicos nessa área precisará viver como se morasse em outro planeta, sem ter cartão de crédito ou sem utilizar prestações? A sabedoria e a maturidade nos levam a encarar essa situação polarizadora de forma equilibrada. Podemos dizer que não é pecado ter conta em uma loja, utilizar o cartão de crédito ou o crediário, desde que as mensalidades sejam pagas em seu vencimento. Por outro lado, quando não podemos saldá-las no final do mês, as dívidas a crédito se tornam pecado!
Regularmente, muitas famílias se comprometem a pagar despesas fixas além de o total de seus salários. Tais despesas são pagamentos obrigatórios que fazem mensalmente durante curto, médio ou longo prazo. Ao somar as despesas fixas e perceber que elas chegam a consumir grandes porcentagens da renda mensal, a única constatação possível é que a família está em perigo. Muitas vezes essa situação vai minando os relacionamentos e chegando a tornar o convívio praticamente insuportável. Tensões, pressões e ansiedades passam a ser parceiros freqüentes do casal chegando até ao divórcio. Tal desastre, porém, não surge da noite para o dia. As pessoas vão recebendo mensagens da satisfação provocada pelos bens materiais que são adquiridos através de planos aparentemente fáceis, e acabam escorregando, com a ilusão de que não terão dificuldade em equilibrar as dívidas, destapando um lugar e tampando outro.
Foi essa, falando de forma muito simples e estereotipada, a causa da crise financeira americana que estourou no segundo semestre de 2008. O desejo de posse acaba dominando de tal forma, que mesmo cristãos comprometidos, se não tomarem cuidado, poderão acabar cedendo às tentações e pressões financeiras da economia planejada pelo mundo. É preciso, então, lembrarmos uns aos outros que a tentação é venenosa, sutil e gradativa. Porém, podemos utilizar o antídoto da disciplina bíblica.

– O que, então, devemos fazer?
Para começar precisamos fazer uma pergunta a nós mesmos: quanto ganho e quanto gasto? E, para não dar um salto maior que a perna, gostaria de sugerir o terceiro ponto:

Orçamento familiar
Lucas 14.28 e 16.11 ensinam que é absolutamente necessário fazer um planejamento financeiro, mas sua preparação não significa, necessariamente, obediência aos padrões econômicos divinos.
O orçamento é um guia, uma forma de avaliar o progresso em direção ao alvo. No âmbito familiar, marido e esposa devem ser cúmplices em sua elaboração e cumprimento. Há despesas fixas, ocasionais e extras. Vejamos alguns passos básicos:

1. Fazer um levantamento da renda mensal líquida do casal.

2. Determinar, através de oração, a quantia a ser separada para ofertas mensais.

3. Listar as despesas fixas: aluguel, condomínio, prestação do carro, da casa, convênio médico, mensalidade escolar etc.

4. Listar todas as despesas controláveis: alimentação, supermercado, roupas, gás, água, luz, telefone e itens pessoais.

5. Somar os passos 2, 3 e 4. A soma não pode ultrapassar o total do item 1. Idealisticamente essa soma deve ser um pouco menor que o montante da renda líquida mensal (item 1). A sobra entre os pontos 2, 3, 4 e 1 deve ser direcionada a investimentos, poupança etc.

6. Listar as despesas num livro caixa, ou em um software específico como o Excel.

7. Guardar cuidadosamente notas e recibos dos gastos durante três meses.

8. Revisar e reavaliar o orçamento quando necessário.

9. Manter esse método durante seis meses, pois ajudará a entender em que o dinheiro está sendo gasto, a controlá-lo e não ser controlado por ele.

Esse passo pode ajudar a evitar desequilíbrios, manter estabilidade, ou revelar o desastre em que já se encontram determinadas situações. É o espelho que revela as condições da vida financeira do casal.
Diante da constatação de um “caos econômico” serão necessários “diagnósticos e tratamentos”. Alguns remédios poderão ser “amargos e difíceis de engolir”, mas poderão trazer mais estabilidade ao lar.
Lembre-se, Deus não prometeu suprir desejos, mas necessidades. Nossa tarefa é distinguir entre ambos, perceber Suas prioridades e cumpri-las.
Que Deus abençoe todos aqueles que, sinceramente, procuram colocar em dia sua vida financeira e operar sob a sabedoria do plano econômico de Deus.

Jaime Kemp

Revista Lar Cristão / Padom

Deixe sua opinião