O VASO E O NARDO! – Pr. André Lepre

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Marcos 14.3:9

3 – E, estando ele em Betânia, assentado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher, que trazia um vaso de alabastro, com ungüento de nardo puro, de muito preço, e quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça.

4 – E alguns houve que em si mesmos se indignaram, e disseram: Para que se fez este desperdício de ungüento?

5 – Porque podia vender-se por mais de trezentos dinheiros, e dá-lo aos pobres. E bramavam contra ela.

6 – Jesus, porém, disse: Deixai-a, por que a molestais? Ela fez-me boa obra.

7 – Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes; mas a mim nem sempre me tendes.

8 – Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.

9 – Em verdade vos digo que, em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua memória.

Era o período da Páscoa, faltavam somente dois dias para a celebração. Jesus estava passando por um momento difícil, estava sendo perseguido pela cúpula religiosa de Israel e tramavam pelas suas costas a sua prisão, condenação e morte.

Ele está em Betânia e é convidado para jantar na casa de um homem, leproso, chamado Simão. Após o jantar, ainda reclinado sobre a mesa, uma mulher se aproxima de Jesus e com um vaso de alabastro em suas mãos o quebra e derrama sobre sua cabeça aquele óleo nobre, puro e de alto valor. Instantaneamente algumas pessoas presentes ali ficam indignadas, dentre elas, Judas faz a observação de que aquilo era um desperdício, pois poderia se vender aquele óleo caro, com valor estimado em 300 denários e dar aos pobres ao invés de usá-lo todo em Jesus.

Isto posto o texto acima serve de reflexão sobre algumas verdades que estão implícitas no texto e que estão esquecidas nos dias de hoje, verdades espirituais que descortinam para nós o real sentido e valor de servir a Cristo e ao seu Reino, e que geram conseqüências não somente no mundo espiritual, mas também, no natural.

O Alabastro era um vaso fabricado a partir de uma pedra encontrada nas imediações de uma cidade Egípcia chamada Alabastron. Era semelhante ao mármore, mas era mais maleável e facilmente se modelava os vasos de perfumes. Sua base era arredondada e ia afinando até o gargalo.

1º. QUEBROU O VASO DE ALABASTRO

Por que o vaso de alabastro ao chegar ao gargalo ia afinando? Porque como era um vaso especialmente para guardar perfumes, e alguns muito caros, servia para dosar a quantidade a ser utilizada. Quando essa mulher quebrou o vaso, ao quebrá-lo naquele momento ela quebrou várias outras coisas:

  • A religiosidade4 – E alguns houve que em si mesmos se indignaram, e disseram: Para que se fez este desperdício de ungüento?

O ato dessa mulher era um ato de adoração. Ao criticarem esse ato, estavam criticando a forma dessa mulher adorar a Jesus. Essa mulher quebrou uma religiosidade que engessa as pessoas na sua forma de adorar a Deus. Uma religiosidade que aprisiona as pessoas em códigos de conduta, em ética de comportamento, uma religiosidade que determina um modelo correto de adoração a Deus. Não Pode bater palmas, não pode pular, não pode dançar, não pode correr, não pode gritar. Em II Samuel 6 a partir do versículo 16 a Arca da Aliança vinha sendo conduzida para Jerusalém, o povo se alegrando e à frente o rei Davi dançando e saltando de alegria, Mical esposa de Davi ao vê-lo, o criticou, o desprezou, tudo porque Davi estava livre de suas vestes reais e estava coberto apenas por uma túnica simples adorando a Deus. Existem algumas pessoas que estão vestindo capa de adorador, sapato de adorador, anel de adorador, mas o verdadeiro adorador veste túnica porque quem veste capa se encobre se esconde. Quando mostramos a túnica, nos revelamos, revelamos quem somos, revelamos nossa essência. Despoje-se de toda veste real porque quando adoramos a Deus não precisamos nos cobrir precisamos nos revelar para Deus.

Quando se trata de adorar a Deus não se segue modelos estabelecidos por homens, mas o estabelecido por Deus, e o modelo estabelecido por Deus é este: O adorem em espírito e em verdade porque o Senhor procura os verdadeiros adoradores. Adore a Deus com o seu corpo dançando para Ele, adore a Deus com a sua voz louvando a Ele, adore a Deus com o extravasar de alegria de sua alma pulando, correndo, gritando para Eleeeeee!

  • A hipocrisia5 – Porque podia vender-se por mais de trezentos dinheiros, e dá-lo aos pobres. E bramavam contra ela.

A adoração dessa mulher quebra com a hipocrisia desses homens, entre eles Judas, que queria que ela não derramasse o nardo sob o pretexto de vendê-lo e o dinheiro dá-lo aos pobres. Mas isso era apenas um pretexto, pois a real intenção de Judas era vender o nardo e colocar o dinheiro na sacola para que, então, ele pudesse roubar e se dar “bem”. A atitude dessa mulher deixou uma verdade profunda para os dias de hoje: Quando se dá um presente valioso para alguém, o valor que fica em destaque não é o do presente em si, mas é o de quem recebe o presente! Por isso Jesus repreendeu aqueles homens dizendo: “Porque vocês molestam essa mulher? Ela fez uma boa obra. Os pobres vocês sempre os terão, e quando quiserem poderão fazer o bem a eles, mas a mim, nem sempre vocês me terão.”

  • O comprometimento dos valores espirituais7 – Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes; mas a mim nem sempre me tendes.

A atitude dessa mulher mostra-nos que os seus valores espirituais não estavam comprometidos pelos materiais, e, se em algum momento estiveram, a partir do encontro com Jesus isso foi quebrado.

Para ela pouco importava o valor do nardo, o quanto ela tinha pago por ele ou o que ele poderia render como lucro financeiro. Para ela o que importava era ungir o seu Rei, sim, alguns estudiosos dizem que ela o ungia como a um Rei e para ela era isso o que importava. Ele era o Rei da sua vida, da sua alma, do seu espírito.

Temos visto um “modismo evangélico” que cria fórmulas de persuasão do povo para encher suas igrejas. É o lenço, a rosa, o sabonete, a aliança, a chave, os selos, o carnê, tudo pelos milagres, pelas bênçãos, menos pelo próprio Deus. Criam-se campanhas megalomaníacas, deturpa-se a Palavra de Deus, criam-se mecanismos de busca de milagres de Deus, porque o que importa é a benção, é a vitória, é a conquista, mas não se busca a Deus pela sua essência. Os homens estão à procura de fama, poder, riqueza, notoriedade. Deus procura os fiéis Salmos 101:6 – Os meus olhos estarão sobre os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá. Quem são os fiéis? São os que como essa mulher, não se dobrou ao sistema religioso, não se venderam ao mundo, não se dobraram diante de Jezabel como Elias, não se contaminaram com as iguarias do rei como Daniel não se dobrou diante da estátua de Nabucodonosor como Sadraque, Mesaque e Abdenego, não esconderam para debaixo do tapete os seus pecados como Davi, não fugiram do propósito como Neemias, não fugiram ao chamado de Deus como Isaías. Na verdade a real intenção do coração comprometido com o mundo é o lucro financeiro, é o balanço contábil no final do mês, é a quantidade de dízimos e ofertas menos o próprio Deus. É o carro importado, é a lancha no iate clube, é a fazenda de milhares de alqueires. Resultado disso?

Criam-se pessoas doentes na alma, pessoas sem base bíblica, sem sustentação na Palavra de Deus, sem alicerces sólidos que serão capazes de suportar os embates da vida, e assim, tornam-se pessoas fracas espiritualmente a ponto se serem alvos fáceis das tentações do mundo e com isso comprometerem os valores espirituais em detrimento dos materiais e que poderão levá-las a perdição de sua salvação. Compromete-se a fidelidade, a santidade, a submissão, a aliança com Deus.

  • A si mesma diante de Deus, a sua natureza pecaminosa, com seus traumas, medos, angustias e aflições. – 3 – E, estando ele em Betânia, assentado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher, que trazia um vaso de alabastro, com ungüento de nardo puro, de muito preço, e quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça.

Ao quebrar o vaso era como se essa mulher estivesse quebrando a si mesma diante de Deus. Mostrando a sua essência, não tendo medo de expor seus pecados, suas falhas, seus erros, pois não há como consertar um vaso rachado. Não tem como colocar um superbonder porque pode até colar, mas a marca, a cicatriz fica. Para ser um vaso novo, sem marcas ou cicatrizes tem que se quebrar diante de Deus e oferecer o seu melhor para Ele. Jeremias 18:4 – Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer.

Ao quebrar o vaso essa mulher estava dizendo que iria derramar tudo, não teria volta, ou seja, não iria guardar nada, a última gota do nardo seria derramada sobre a cabeça de Jesus. Que somente Ele era digno de receber aquele óleo. Tudo era dEle, por Ele e para a glória dEle. Era uma entrega total!

O nardo era um óleo extraído da raiz de uma planta da Índia chamada Nardostachys jatamansi que crescia nas montanhas do Himalaya. A distância e a raridade da planta eram os ingredientes que tornava o nardo caríssimo e tão muito procurado.

Alguns estudiosos calculam que nos dias de hoje esse óleo valeria aproximadamente R$ 60.000,00.

Certa vez o pastor e professor William Barclay disse: “O amor não calcula meticulosamente menos ou mais. Não se preocupa em saber quão pouco pode ser decentemente oferecido. Se deu tudo o que tinha, então deu o mundo inteiro, e ainda seria pouco.” (William Barclay)

 

2º. DERRAMANDO O NARDO

300 denários equivaliam a um ano de salário de um trabalhador daquela época. Isso significava dizer que essa mulher deu a Jesus um ano de seu trabalho. Significava dizer que essa mulher pagou um alto preço pelo nardo. Significava dizer que ela ofereceu a Jesus algo de valor, algo que lhe custou muito. Esse óleo tornou-se mais valioso ainda por causa daquele em quem foi derramado. A mensagem dessa mulher ao derramar o nardo sobre a cabeça de Jesus foi essa: “O valor desse nardo puro não se compara ao valor de Jesus para minha vida!”

Isso me faz pensar: O que temos oferecido a Jesus?

Muitas vezes só oferecemos problemas, questionamentos, revoltas, críticas, mágoas.

Oferecemos o resto. O resto do nosso tempo, o resto da nossa dedicação, o resto do nosso compromisso, o resto da nossa atenção, o resto dos nossos esforços… Será que é isso que ele merece de nós?

Minha consciência me leva a pensar:

Como posso dar o resto de mim à alguém que me deu o melhor que eu sou?

Como posso dar o resto do que tenho à alguém que me deu tudo que tenho?

Tudo que tenho, tudo que sou, o ar que eu respiro tudo provém Dele.

A minha esposa, marido, filhos, ministério, trabalho, recursos, sentimentos, a vida, tudo provém Dele.

Por isso, dê o seu melhor para Deus. Dê o melhor tempo, o melhor louvor, a melhor adoração, a melhor oferta, a melhor atenção.

Deus não espera outra coisa de um filho.

Davi perguntou: Salmos 116:12 – Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito?

Quando Davi foi oferecer sacrifícios a Deus depois de ter passado por uma prova muito grande ele disse a Araúna em II Samuel 24:24“Não oferecerei ao meu Deus aquilo que não me custe nada.”

 

3º. O BOM PERFUME DE CRISTO

Ao derramar o nardo sobre Jesus essa mulher estava fazendo um ato profético revelado pelo próprio Jesus: 8 – Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.

O nardo derramado sobre Jesus era o desejo da alma dessa mulher que o cheiro da morte não pairasse sobre Ele, estava dizendo que a morte não lhe deixaria o cheiro, porque não seria capaz de contê-lo ou detê-lo, como não pôde, que Ele venceria a morte, como venceu e ressuscitou. Ela queria que aquele aroma perdurasse, se entranhasse pela eternidade, chegasse ao trono de Deus e inundasse o céu com seu aroma.

Essa mulher tinha amor, fé e era uma adoradora em potencial e isso não tem preço, e isso nem a morte tira. É hora de nos quebrarmos diante de Deus, derramar o nosso nardo, ou seja, a nossa alma diante de Deus, a essência da nossa adoração, do nosso amor e fé  e derramar sobre aquele que venceu a morte e está vivo em nós, pois nós somos o bom perfume de Cristo (II Co 2:15) e o seu nome é Jesus.

Ele é o meu Rei, o meu Senhor, o meu tudo, tudo que tenho e tudo que sou.

Só Ele pode exalar o bom perfume da salvação.

Nele, por Ele, para Ele.

Pr. André Lepre

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