Os sabores da Bíblia – Alimento de Deus

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Vem chegando a Semana Santa. Um tempo para refletir sobre a vida. Inclusive sobre as relações entre o homem e os alimentos, em uma dimensão de fé. A religião, bom lembrar, nasceu com o próprio homem. Todas as civilizações tiveram deuses feitos à sua imagem e semelhança. Os deuses gregos, por exemplo, não sabiam perdoar. Os egípcios puniam quem não lhes obedecia. Aos poucos, tudo foi mudando. Os muitos deuses, em quase todas as culturas, acabaram um só – onipotente, criador do universo, puro, misericordioso, síntese da perfeição. A violência e a vingança dos primeiros tempos foram convertidas em compaixão e perdão. A Bíblia é testemunho desse Deus que hoje professamos. Bíblia vem do grego “biblion” (livros); e, não por acaso, são muitos esses livros: 46 no Antigo Testamento, escritos em hebraico e aramaico, anteriores ao nascimento de Cristo; e 27 no Novo, em grego, depois da morte daquele que veio ao mundo para nos salvar. Todos traduzidos para o latim, por São Jerônimo, no século IV, em uma versão definitiva denominada “Vulgata”.A Bíblia se ocupa de quase tudo. Da origem do universo e do homem, de Noé e dos patriarcas (Gêneses), da fuga dos hebreus (Êxodo), de como vagaram no deserto (Números), da fidelidade aos mandamentos (Deuteronômio), da organização dos cultos (Levítico) e sobretudo da vida de Jesus (Evangelhos). Em cada uma dessas passagens estão hábitos do povo de Deus. Inclusive alimentares. O Eclesiastes ensina que “há tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado” (3, 2); e que “comer, beber e gozar do fruto do seu trabalho é um dom de Deus”(3, 13). Alimentos estão ali bem separados: os proibidos e os permitidos; os destinados aos rituais de sacrifício e aqueles usados só como remédio; contando-se até a serventia dos utensílios, na cozinha e na mesa.

Até o primeiro pecado está ligado aos sabores. “Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal… disse podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente”. (Gênesis 2, 9-17). Dando-se que Eva (em hebraico, “costela”) não resistiu “ao fruto da árvore que era bom para comer, de agradável aspecto e muito apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido que comeu igualmente” (Gênesis 3, 6). Razão porque sofreram, ela e esse marido Adão (em hebraico, “aquele que veio da terra”), severo castigo: “Tirarás da terra com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar”. (Gênesis 3, 17-19).

RECEITA: FIGOS COM CREME DE QUEIJO DE CABRA
INGREDIENTES:
500 g de figos frescos
250 g de melão
Azeite
Grãos de mostarda
Geléia de framboesa
Alface americana
PARA O MOLHO:
350 g de queijo de cabra
100 ml de creme de leite (de caixa)
1 colher de café de alecrim fresco
1 colher de café de salsa picada
1 colher de café de hortelã picada
Sal e pimenta do reino

PREPARO:
– Corte os figos em gomos. Corte fatias de melão muito finas e enrole em forma de rosas. Reserve.

– Prepare o molho misturando, no liquidificador, queijo e creme de leite. Depois junte (sem bater mais) alecrim, salsa, hortelã. Tempere com sal e pimenta a gosto. Reserve.

– Arrume em pratos individuais. Forre com alface americana (temperada com azeite, vinagre, sal, açúcar, pimenta). No centro coloque a rosa de melão. Envolta dela, os gomos de figo; e sobre eles colheradas do molho de queijo de cabra, pingos de geléia e os grãos de mostarda (antes salteados em frigideira quente, sem gordura).

Dos alimentos do povo de Deus o mais importante, sem dúvida, é o pão. Belém (Bet’lehem), cidade da Palestina em que nasceu Jesus, significa precisamente “casa do pão”. “O principal para a vida do homem é a água, o pão, o vestuário e uma casa para ocultar a sua nudez” (Eclesiástico 29, 28). O pão era componente obrigatório de todas as refeições; servindo, também, para levar comida à boca. Nos primeiros tempos, preparado com farinha de trigo (ou de cevada) e legumes secos. Ainda sem fermento; que a novidade foi descoberta só mais tarde, pelos egípcios. “Jacó deu a Esaú pão e prato de lentilhas. Esaú comeu, bebeu, depois se levantou e partiu. Foi assim que Esaú desprezou o seu direito de primogênito” (Gênesis 25, 34). É que, por essa época, os primeiros filhos eram considerados sagrados – por deles depender a descendência das famílias. Depois, Abraão, velho patriarca – do grego “pátria” (família) e “arche”(governante) – desejando servir refeição majestosa a três anjos, disse a sua mulher Sara: “Depressa, amassa três medidas de farinha e coze pães”. Como recompensa Deus concedeu aos dois, “velhos, de idade avançada” (Gênesis 18, 6-11), o prêmio de um filho.

Nos primeiros tempos o pão era servido puro, com azeite ou molhado no vinagre: “Vem, come tua parte do pão, e molha o teu bocado no vinagre” (Rute 2, 14). Ao escapar do cativeiro egípcio, vagaram os hebreus pelo deserto por 40 anos – percorrendo uma distância que normalmente se daria em um mês a pé, ou duas semanas em camelo. Como eram guiados por Moisés, que exercia a profissão de guia do deserto, mais provavelmente esse guia queria apenas preparar uma nova geração de seu povo, tornando-a mais apta a lutar pela terra prometida. Seja como for, cansados e famintos, se lamentavam todos: “Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante de panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto para matardes de fome toda esta multidão” (Êxodo 16, 3). A queixa foi ouvida pelo Senhor, que disse a Moisés: “Vou fazer chover pão do alto do céu” (Êxodo 16, 4). E mandou, dos céus do deserto, codornas e maná (“man-hu – substância leve e quebradiça como pequenos flocos de gelo”). Valendo lembrar que um dos milagres de Jesus foi o da multiplicação do pão – eram “cinco pães e dois peixes….e foram cinco mil os homens que haviam comido aquele pão” (Marcos 6, 41-44).

Ao lado desse pão esteve sempre o vinho. A ele inclusive destinou Jesus outro de seus milagres, em bodas realizadas na cidade galiléia de Caná. A pedido de sua Mãe, assim disse: “Enchei as talhas de água…e quando os serventes provaram da água tornada vinho, se surpreenderam” (João 2, 7-9). As citações são freqüentes nesse tema. “Vinho novo, amigo novo; é quando envelhece que o beberás com gosto” (Eclesiástico 9, 15). “Faz-se festa para se divertir; o vinho alegra a vida…” (Eclesiastes, 10, 19). Noé “era agricultor, e plantou uma vinha. Tendo bebido vinho embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda” (Gênese 9, 20). É que “O vinho e as mulheres fazem sucumbir até mesmo os sábios, e tornam culpados os homens sensatos” (Eclesiástico 19, 2). Por isso era recomendado cuidado com o vinho “que morde como uma serpente e pica como um basilisco (lagarto). Teus olhos verão coisas estranhas. Teu coração pronunciará coisas incoerentes” (Provérbios 23, 32-33).

Lembrando que o pão e o vinho estão presentes, sobretudo, na Santa Ceia, quando “Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e deu a seus discípulos dizendo: Tomai e comei isto é o meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu a eles, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mateus 26,26-28).

RECEITA: PÃO ÁZIMO ASSADO NA BRASA COM AZEITE
INGREDIENTES:

500 g de farinha de trigo integral
250 ml de água
100 ml de azeite
Sal a gosto

PREPARO:
Coloque a farinha em recipiente e faça no centro um buraco. Coloque, nesse buraco, água, azeite e sal. Amasse bem, até obter massa homogênea. Faça pequenas bolas e leve ao forno (170º), durante 10 minutos. Retire do forno, passe ligeiramente sobre a brasa, regue com azeite e sirva. Aproveito para desejar, a todos, feliz Páscoa!

Lecticia Cavalcanti

Terra Magazine / Padom

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