Suicida mata 21 pessoas em igreja cristã de Alexandria

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Transeuntes se reúnem em volta de carro danificado após explosão de bomba em Alexandria, 230 quilômetros ao norte do Cairo, neste sábado, 1o de janeiro de 2011. A detonação do carro-bomba do lado de fora de uma igreja ortodoxa matou 17 pessoas. REUTERS/Stringer

“Estava no interior da igreja quando ouvi uma enorme explosão”, disse o padre Mena Adel, adiantando: “Corpos estavam em chamas.” 2011 começara poucos minutos antes e os cerca de mil cristãos que haviam participado na missa de Ano Novo saíam da igreja de Todos os Santos, em Alexandria sem suspeitar que a morte espreitava no exterior do templo: um suicida fez-se explodir, matando 21 cristãos e ferindo outros 80. Um atentado que provocou já a condenação e o repúdio mundial.

Kameel Sadeeq, do Conselho dos Cristãos Coptas de Alexandria, afirmou que o “massacre tem todas as marcas da Al-Qaeda, tem o mesmo padrão utilizado em outros países”. Aliás, o atentado acontece dois meses após a Al-Qaeda ter ameaçado a comunidade copta do Egipto, que constitui 10% da população do país.

Num primeiro tempo, fora avançada a hipótese de que se tratasse de um carro armadilhado ou que a bomba tivesse sido colocado debaixo do automóvel de um dos cristãos que participara na missa. Mas, feitas as primeiras investigações, a polícia egípcia privilegiou a tese de um suicida que aguardou o fim da cerimónia para se fazer explodir no exterior do templo.

Numa intervenção pela televisão, o Presidente egípcio classificou o atentado como um “acto criminal odioso que visou a nação, coptas e muçulmanos”. Hosni Mubarak denunciou ainda a “implicação de mãos estrangeiras” no massacre e lançou um apelo à calma. Mas o pedido do Presidente não foi ouvido e, ontem, o Dia Mundial da Paz, instituído há décadas pelo Vaticano, transformou-se num dia de luto e raiva para a comunidade copta da cidade mediterrânica: jovens coptas, cuja fachada da sua igreja ficou manchada pelo sangue das vítimas, avançaram contra a mesquita que lhe fica em frente, defendida pela polícia anti-motins.

“O coração dos coptas está em chamas”, “O sangue dos coptas não é negociável” ou ainda “Com o nosso sangue e a nossa alma defenderemos a Cruz”, foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos jovens coptas da segunda maior cidade do Egipto enquanto enfrentavam a polícia anti-motins: pedras e garrafas contra granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha.

Chenouda III, o Patriarca da Igreja Copta, exigiu que os autores do ataque sejam presos e julgados, ao mesmo tempo que qualificava o atentado de acto “terrorista” e “cobarde” que “visa desestabilizar o país”.

O atentado foi explicitamente condenado pela França, Itália, Reino Unido, Síria, Israel, Irão e ainda pelo grupo integrista palestiniano Hamas e pelo grupo radical egípcio Irmãos Muçulmanos.

Em Roma, o Papa aproveitou a homilia da missa do dia de Ano Novo para denunciar a violência de que os cristãos estão a ser alvo no mundo e alertar os responsáveis políticos para defender os cristãos dos abusos e da intolerância religiosa.

“Insisto, mais uma vez, que a liberdade religiosa é um elemento essencial do Estado de Direito”, afirmou Bento XVI que adiantou: “As palavras não bastam, é preciso um empenhamento concreto e constante dos responsáveis das nações.”

Bento XVI aproveitou para anunciar que irá como peregrino à cidade italiana de Assis – cidade de S. Francisco – onde irá ocorrer um encontro inter-religioso pela paz.

Enquanto isto, fonte do Ministério do Interior egípcio dava conta de que a bomba utilizada era de fabrico local e continha pedaços de metal “para atingir o maior número de pessoas”. Segundo a mesma fonte, tudo indica que “elementos externos planificaram e seguiram a concretização” do atentado.

DNGlobo.sapo/Portal Padom

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